Como definir o tema, o problema e os objetivos da pesquisa?

Antes de mais nada, você sabe o que é pesquisa científica? Conhece as características dela? Esclarecer isso é necessário porque há vários entendimentos sobre o que é pesquisar.

Na educação básica, quando professores solicitam que estudantes façam uma pesquisa, ela costuma se apoiar em cópias de assuntos mapeados em livros ou na Internet. Não é dessa pesquisa que estamos falando.

A pesquisa científica se baseia  em método científico sistemático e requer a busca de solução ou a compreensão mais aprofundada de um fenômeno. Ela se ampara em teorias e pesquisas anteriormente realizadas e validadas no meio científico. Não se faz pesquisa acadêmica sustentada em conteúdos rasos de opiniões de leigos que escrevem em blogs ou disponibilizam vídeos da Internet. A pesquisa científica busca fundamentação teórica em repositórios científicos nacionais e internacionais.

Segundo Gil (2018), o pesquisador precisa ter certas qualidades. São elas: conhecimento do assunto a ser pesquisado, curiosidade, criatividade, integridade intelectual, atitude autocorretiva, sensibilidade social, imaginação disciplinada, perseverança, paciência e confiança na experiência.

Mas não há apenas um tipo de pesquisa científica; há vários. E eles se norteiam por diferentes concepções de ciência e dependem da área de conhecimento em que o pesquisador atua. Os estilos de pesquisa realizados nas ciências sociais são diferentes dos utilizados nas ciências mais “duras”, como as exatas ou as naturais.

Por que é relevante chamar a atenção para essas questões? Dependendo da área em que vamos realizar a pesquisa, o modo como se lida com o estabelecimento dos objetivos, das hipóteses e do levantamento dos problemas é diferente.

Há ciências que lidam exclusivamente com questões objetivas e há aquelas que consideram as implicações da subjetividade na objetividade.

Para exemplificar, recorremos aos neurocientistas Humberto Maturana, biólogo, e Francisco Varela, físico. Eles afirmam que não há como eliminar a subjetividade da pesquisa, isto é, os dados levantados dependem do olhar de quem observa, por isso recomendam que se coloque a objetividade entre parênteses. (MATURANA, 2001, 2006; MATURANA; VARELA, 2005).

Compreendido o que é pesquisa científica, os requisitos necessários para ser um pesquisador e os estilos de se fazer pesquisa, o primeiro passo para iniciá-la é escolher e delimitar o tema.

O tema é um assunto amplo, mais genérico. Por exemplo: a avaliação escolar. Escolhido o tema é preciso delimitá-lo, enfocando um determinado contexto. Por exemplo: avaliação escolar no município de Varginha.

O tema escolhido deve ser algo sobre o qual o pós-graduando tenha conhecimento teórico ou prático. Quer dizer, é importante que a pesquisa esteja conectada com as suas ações, com algo em que você esteja envolvido. Evite pesquisar temas para os quais  você já tem resposta. Não se pesquisa para confirmar nossas certezas, mas para refletir sobre problemas para os quais ainda não temos soluções.

Escolhido o tema, é preciso fazer perguntas sobre ele, ou seja, é a problematização que vai possibilitar a construção do problema de pesquisa.

Cabe aqui chamar a atenção de que, dependendo da área, essas problematizações são flexíveis e vão se modificando ao longo do processo, mas é necessário que sejam feitas já no começo da pesquisa.

Vamos fazer um exercício de problematização em torno do tema avaliação escolar no município de Varginha? Algumas questões que podem ser levantadas são:

  1. Qual o objetivo da avaliação escolar? Avalia-se para quê?
  2. Como avaliar?
  3. Que tipos de avaliação existem?
  4. Quais os modelos de avaliação utilizados na região de Varginha?
  5. Há professores adotando concepções variadas para avaliar seus estudantes?

A partir dessas problematizações, podemos elaborar o seguinte problema de pesquisa: Quais são os modelos de avaliação utilizados pelos professores para avaliarem os estudantes da educação básica na região de Varginha?

Muitas vezes é preciso delimitar ainda mais o problema para que a pesquisa seja viável. No exemplo acima, pode ser que a quantidade de professores a serem entrevistados seja uma limitação que venha a inviabilizar a pesquisa. Nesse caso, o pesquisador vai precisar diminuir o universo da investigação. Poderia, por exemplo, escolher um determinado bairro ou uma determinada classe.

Segundo Kerlinger (1980), um problema é de natureza científica quando envolve proposições que podem ser testadas mediante verificação empírica. Outros problemas de natureza mais prática ou de juízo de valor, e que não possam ser testados, não são considerados científicos. Nos problemas científicos, as variáveis precisam ser observáveis.

Delimitado o tema e definida a questão de pesquisa, elaboram-se os objetivos, que podem ser subdivididos em gerais e específicos.

Para expressar os objetivos, recomenda-se  empregar verbos como: identificar, verificar, descrever, comparar, mapear e avaliar. Verbos como pesquisar, entender e conhecer não são adequados, pois não conferem clareza nem precisão.

O objetivo geral está diretamente conectado ao problema de pesquisa, ou melhor, é o próprio problema de pesquisa transformado em objetivo, veja:

O problema de pesquisa é: Quais são os modelos de avaliação utilizados pelos professores para avaliarem os estudantes da educação básica na região de Varginha?

O objetivo geral é: identificar os modelos de avaliação utilizados pelos professores na avaliação dos estudantes da educação básica na região de Varginha.

Os objetivos específicos estão diretamente relacionados com os passos necessários para atingir o objetivo geral. Por exemplo:

 1. Verificar, por meio de estudo bibliográfico, os tipos de avaliação existentes ao longo da história da educação

2. Mapear as concepções epistemológicas e as características de cada modelo avaliativo

3. Verificar as diretrizes curriculares para a educação básica do município de Varginha

4. Mapear as avaliações realizadas pelos professores da educação básica da região de Varginha

5. Comparar as avaliações realizadas pelos professores dos diversos modelos avaliativos encontrados nas fontes bibliográficas

Agora que você já delimitou o tema, já definiu o problema de pesquisa e os objetivos, falta pouco para escrever seu projeto de pesquisa. É preciso ainda justificar a relevância da pesquisa e a viabilidade da mesma, mas isso é tema para outro artigo.

Referências Bibliográficas

KERLINGER, F. N. Metodologia da pesquisa em ciências sociais: um tratamento conceitual. São Paulo: EPU: Edusp, 1980.

GIL, A. C.  Como elaborar projetos de pesquisa. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2018.

MATURANA, H. R. A Ontologia da Realidade. Belo Horizonte: editora UFMG, 2001.

MATURANA, H. R. Cognição, Ciência e Vida Cotidiana. Belo Horizonte: editora UFMG, 2006.

MATURANA, H. R. E VARELA, F.J. A árvore do Conhecimento: as bases biológicas do conhecimento humano. São Paulo: Palas Athena, 2005.

Sobre a Autora Dr. Ivane Almeida Duvoisin

Durante mais de trinta anos de experiência como professora universitária, Ivane Duvoisin, idealizadora do Me Orienta Academy, percebeu a dificuldade dos estudantes em lidar com a pressão do meio acadêmico e sentiu na pele o desafio que é dar conta das demandas que os profissionais têm nesse meio.

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2 comentários
Josimar says 10/10/2020

Excelente material.

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    Dr. Ivane Almeida Duvoisin says 14/10/2020

    Que bom que você gostou Josimar, espero que seja útil para você.

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