Coaching e mentoria na educação

O coaching e a mentoria têm alto potencial para a educação, pois são metodologias centradas no autoconhecimento e na autonomia dos agentes educacionais. Podem ser utilizadas tanto com os estudantes como com professores, gestores ou pais para que consigam potencializar as habilidades, competências e aprendizado dos estudantes. Mas qual é a diferença entre essas duas metodologias?

O que é coaching?

Da Matta e Victória (2014) definem coaching como um processo que busca elevar a performance de um indivíduo, um grupo ou uma empresa. Isso é feito pelo coach, profissional habilitado a aplicar metodologias, ferramentas e técnicas para aumentar os resultados positivos de seu cliente, denominado coachee.

O coaching pode ser visto como uma metáfora para denotar a mudança de posicionamento – de como a pessoa está para o que ela deseja alcançar; isso devido a origem da expressão coach.

Santos (2012) e Marques (2018) afirmam que o termo surgiu por volta de 1500, na cidade de Kocs, na Hungria, para se referir aos cocheiros, aqueles que conduziam as pessoas de um ponto A até um ponto B por meio de carruagens. 

Embora sua história esteja associada ao período da criação das carruagens movidas pelos cocheiros, Chiavenato (2002) considera que sua origem remonta à Grécia Antiga com as ideias socráticas de não dar respostas, mas fazer com que o indivíduo encontre as respostas através de questionamentos. 

Sócrates dizia que o ser humano tem em si as respostas e que as encontra quando reflete sobre as possibilidades de soluções. É precisamente isso que o coach faz, questiona o cliente até ele encontrar soluções.

Em 1850, a palavra coach foi usada nas universidades inglesas para fazer referência aos professores (tutores) que preparavam os estudantes para a realização de tarefas, testes e exames. 

Foi somente em 1960 que o coaching começou a ser utilizado de uma forma mais ampla no desenvolvimento pessoal e humano, começando pelos esportes e estendendo-se, posteriormente, ao meio executivo e educacional. 

Nessa mesma época, um programa educacional de Nova York passou a oferecer serviços de coaching de vida. Mais tarde, o coaching passou por aperfeiçoamentos através de técnicas e resolução de conflitos, sendo incorporado também pelo Canadá.

No Brasil, foi introduzido na década de 1970 no meio esportivo e ampliou-se, a posteriori, para as áreas humanas da Administração e Psicologia. Recentemente, começou a ganhar força nas instituições de ensino, com um movimento de capacitação de professores para aprenderem a aplicar as técnicas nas escolas.

No relatório da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI da Unesco, elaborado por  DeLors (2001), aparecem os princípios do aprender a aprender, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser, bem como recomendações para o desenvolvimento de habilidades e competências na educação que se alinham às práticas do coaching.

Tais práticas resultam de uma síntese de várias áreas do conhecimento – como Filosofia, Psicologia, Administração de Empresas, Neurociências e Educação –  e de campos que lidam com o treinamento e aprendizagem de adultos (Andragogia), com a gestão de pessoas, teorias comportamentais e liderança.

De acordo com Lages e O´Connor (2004) o processo de coaching é sustentado por três elementos: metas, valores e crenças. 

Meta é o que se deseja alcançar; para atingi-las, é preciso mapear as crenças e os valores, pois ambos influenciam as ações.

Valores é o que impulsiona nossas vidas e as crenças são as opiniões arraigadas que direcionam nossas decisões porque influenciam nossos comportamentos. 

Para alcançarmos nossos objetivos, precisamos mudar nossos comportamentos e, para tanto, é necessário conhecer as crenças e os valores que estão nos mobilizando. 

O coaching é um processo de autoconhecimento que disponibiliza ferramentas para gerir nossas vidas, controlar nossas emoções e mudar nossos hábitos e comportamentos.

O que é mentoria?

Assim como o coaching, a mentoria é um processo de redescoberta e de redirecionamento de metas e ações. Essas duas metodologias podem ser aliadas e utilizadas em conjunto, mas são coisas diferentes. 

O coaching utiliza ferramentas para traçar estratégias para desenvolver habilidades, alcançar objetivos e despertar uma nova consciência do potencial humano. 

A mentoria é a troca de conhecimentos entre um profissional experiente e um novato em determinada área. O primeiro é o mentor – em geral alguém que já vivenciou e superou boa parte das problemáticas da profissão – e sua função é orientar um iniciante, passando adiante seus conhecimentos e experiências. 

Um exemplo de mentoria são os programas de residência médica, nos quais o profissional recém-formado ingressa para aprender com os mais experientes. 

Tanto a mentoria quanto o coaching são metodologias dialógicas que apostam na conversação e no respeito às diferenças de opiniões, crenças e valores. Para aplicá-las com sucesso, é preciso que “se respeite o outro como legítimo outro na convivência” (MATURANA, 2002, p. 23).

Como aplicar o coaching e a mentoria na educação?

Existem pelo menos quatro situações nas quais podemos implementar essas metodologias no ambiente educacional. Elas podem ser utilizadas com o próprio estudante, com os professores, com os gestores e com a família. 

Essas pessoas, apesar de talentosas, muitas vezes não conseguem exteriorizar os recursos que têm para serem bem-sucedidas. Ficam paralisadas, desmotivadas, sem foco, sem energia e acabam entrando num processo depressivo. O maior desafio nos processos de coaching e mentoria é o controle das emoções.

Sabemos que muitas crianças crescem em lares desestruturados, vivenciando muitos conflitos e agressões, e chegam à escola afetadas emocionalmente. Por isso, é necessário trabalhar conjuntamente com as famílias.

Tanto o coach quanto o mentor são capazes de identificar as dificuldades e mapear os bloqueios ou vícios emocionais que possam estar criando barreiras para o aprendizado e desenvolvimento integral dos seus educandos.

Um educador que deseje implementar a metodologia em sua prática docente precisa acreditar no potencial humano – que todos temos os recursos que necessitamos para alcançar nossos objetivos – e fazer um curso de formação.

Além disso, é preciso ter clareza sobre seus objetivos, suas metas e os princípios que norteiam sua prática docente, ou seja, os valores e as crenças que determinam suas ações.

Nas escolas em que os professores não tenham formação em coaching, a alternativa é contratar um coach-mentor para assessorar e capacitar a equipe.

Como o coaching educacional é bastante recente no Brasil, é difícil avaliar os resultados. Mas há vários casos de sucesso em escolas  estadunidenses que contrataram coaches para capacitar sua equipe pedagógica. 

A título de exemplo, citamos o caso real da professora Karen, relatado por Aguilar (2013), docente de uma escola estadunidense na qual 80% dos estudantes eram latinos e tinham problemas para aprender inglês.  

A coach contratada pela escola sugeriu a Karen realizar um estudo de caso de um de seus alunos que tinha problemas com a leitura de palavras multissilábicas. A professora foi orientada a observar as diversas habilidades do aluno para, a partir delas, criar um método eficiente para tratar o problema. 

Primeiramente, a professora teve que trabalhar seu próprio preconceito em relação à capacidade do aluno. Em um relatório de final de ano, ela contou que considerava o estudante preguiçoso.

Este é um estereótipo muito comum nos Estados Unidos. A coach levou Karen a examinar seu sistema de crenças, desafiando-a a quebrar suposições negativas que tinha em relação aos seus alunos. 

A coach contratada pela escola ajudou tanto gestores quanto professores a identificar as características e as lacunas de aprendizagem  dos estudantes e elaborar um plano de atendimento a pequenos grupos de alunos com a finalidade de eliminar as lacunas.

Esse processo iniciou com o caso de sucesso da professora Karen; o resultado foi tão promissor que promoveu uma mudança do sistema daquela escola.

Os professores aprenderam a importância de quebrar preconceitos, obter informações sobre as dificuldades de aprendizagem e conhecer seus alunos para pensar o que fazer com tais informações. 

O caso relatado não é isolado; existem vários outros que comprovam os benefícios do coaching e da mentoria para o sistema escolar.

No Brasil, também há algumas iniciativas bem sucedidas. Você pode saber mais sobre elas no livro Aplicação do Coaching & Mentoring na Educação: Como alcançar resultados no meio educacional, organizado por Andréia Roma, Marcos Martins de Oliveira e Marcos Wunderlich.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AGUILAR, Elena. The Art of Coaching: Estratégias Efetivas para a Transformação Escolar. San Francisco: Jossey-Bass, 2013.

DA MATTA, Vilela & VICTÓRIA. Personal & Professional Coaching: Livro de Metodologia. São Paulo: Editora SBCoaching, 2014.

DELORS, Jaques (org). Educação um Tesouro a Descobrir: relatório para a Unesco da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI. 7ª.ed. São Paulo: Cortez, 2012

LAGES, Andrea & O´CONNOR, Joseph. Coaching com PNL: O melhor guia para encontrar  melhor em você e nos outros. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2004.

MARQUES, José Roberto. Qual a origem do coaching? Disponível em: https://www.ibccoaching.com.br/portal/coaching/qual-origem-coaching/. Acesso em: 31 jan. 2019.

MATURANA, Humberto Rosemin. Emoções e Linguagem na educação e na política. Belo Horizonte: ED. UFMG, 2012.

SANTOS, Graça. Coaching Educacional: ideias e estratégias para professores, pais e gestores que querem aumentar o seu poder de persuasão e conhecimento. São Paulo: Editora Leader, 2012.

ROMA, Andréia (org).  Aplicação do Coaching & Mentoring na Educação: Como alcançar resultados no meio educacional. São Paulo: Ed. Leader, 2017.

Sobre a Autora Dr. Ivane Almeida Duvoisin

Durante mais de trinta anos de experiência como professora universitária, Ivane Duvoisin, idealizadora do Me Orienta Academy, percebeu a dificuldade dos estudantes em lidar com a pressão do meio acadêmico e sentiu na pele o desafio que é dar conta das demandas que os profissionais têm nesse meio.

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